O candidato a presidente do Peru em 2º turno pelo partido Peru Libre, Pedro Castillo Terrones, é declarado vencedor das eleições nessa terça-feira (9).
Com aproximadamente 72.000 votos de maioria sobre a candidata de direita, Keiko Fujimori (Força Popular).
Pedro Castillo Terrones – 50,2%.
Keiko Fujimori – 49,8 %.
Fonte: OPNE.
Quem é Pedro Castillo, o sindicalista que se aproxima da vitória no Peru
Professor na província de Cajamarca, Castillo ganhou projeção nacional quando liderou a greve nacional de docentes de 2017, que paralisou as aulas por três semanas exigindo melhores condições para profissionais de educação. Não é à toa que seu slogan eleitoral é “Palavra de Mestre” e seu símbolo é um lápis gigante.
Terceiro de nove irmãos, desde cedo conheceu a desigualdade no país andino. Começou seus estudos na Escola Rural N° 10465 e depois foi para uma unidade educacional localizada a duas horas de distância, que percorria a pé. Na juventude, trabalhou pela proteção de seu povo.
Castillo foi parte dos grupos “ronderos” nos anos 70, que protegiam os campesinos e agricultores sem assistência do Estado no interior do país. Os ronderos também atuaram para resguardar os povos diante da escalada de violência promovida pelo Sendero Luminoso e pelas Forças Armadas nos anos 80-2000.
Nova Constituição
O programa do Peru Livre prevê o abandono do neoliberalismo e a construção de uma “Economia Popular com Mercados”, com um forte papel do Estado, além da estatização de reservas. Anjhela Priale, administradora que foi candidata pelo Peru Livre nesse pleito, disse à Fórum que “a orientação básica e elementar sobre a nova Constituição é recuperar a soberania sobre nosso país e nossos recursos naturais”. “Não administramos nossos recursos e não temos opção para renegociar os contratos das concessões ou criar estatais. Além disso, essa Constituição foi elaborada pela ditadura Fujimori”, aponta.
Mulheres e minorias
Revolucionário na economia, mas conservador nos costumes, o candidato tem posições controversas sobre direitos das mulheres e minorias. Contrário ao matrimônio igualitário e à educação com perspectiva de gênero, Castillo é criticado por movimento sociais progressistas por essa postura. Ao contrário de Keiko Fujimori, ele afirma que não está fechado ao avanço desse debate.
Principal representante dessas pautas, a antropóloga feminista Verónika Mendoza, 6ª colocada nas eleições, está ao lado de Castillo no segundo turno. Mendoza afirma que há um caminho para o diálogo nesses temas. Essa foi a principal cobrança dela quando saiu o resultado do primeiro turno e gerou um pacto de 10 pontos em que o professor se compromete a aprofundar a democracia e a respeitar as minorias, os povos originários e os direitos humanos.
Sendero Luminoso
Caso se confirme a vitória de Castillo, abre-se ainda um novo caminho para a esquerda peruana, que tem sido vítima do “fantasma” do Sendero Luminoso. O candidato foi vítima do chamado “terruqueo”, quando se atribui o alinhamento ao terrorismo a alguém de esquerda, mas isso parece não ter surtido grandes efeitos.
“A associação de qualquer personagem minimamente progressista ao terrorismo é uma constante no Peru, eles têm até nome para isso: terruqueo. Mesmo o presidente Sagasti, um liberal, já foi ‘terruqueado’. O massacre atribuído ao Sendero Luminoso na semana passada abriu espaço para as manifestação de sábado contra o terrorismo, mas parece que a repercussão foi residual. Além disso, acusações muito esdrúxulas contra Castillo não pararam desde que ele se mostrou um candidato viável, então não aparece como novidade para muita gente mais. Talvez o ‘terruqueo’ tenha se desgastado”, avalia o sociólogo Raul Nunes, do Núcleo de Estudos de Teoria Social e América Latina (NETSAL) do IESP-UERJ.